Não foi o desânimo que nos levou à Índia, lembrava ontem o Presidente. Pois não, foi D. João II, que depois do reinado desastroso do seu pai - D. Afonso V - arrumou um reino empenhado e definiu um desígnio nacional: a busca de um caminho marítimo para a Índia.
O que o Príncipe Perfeito pretendia não era mais do que enriquecer, por maior romantismo que se queira encontrar nas expedições. Não vacilou, não dividiu esforços nem recursos - recusou patrocinar a viagem de Colombo, que descobriu oficialmente a América -, e mobilizou tudo e todos à volta de um objectivo concreto, a chegada à Índia contornando África.
Esta história deve inspirar-nos, sobretudo a quem governa. Tal como no século XV, Portugal também está empenhado e precisa urgentemente de criar riqueza, de, como disse ontem Cavaco, afastar mais uma vez o cenário de nação improvável e levantar os braços num esforço suplementar de coesão, seja geracional, territorial ou social. Tal como há mais de 500 anos, o país precisa de um desígnio nacional e de concentrar todo o investimento na sua concretização.
Não é segredo, transformar Portugal numa economia exportadora deve ser o nosso caminho marítimo para a Índia. Mas é um enigma saber se e como isso será possível. Portugal escolhe o caminho mais fácil, o de ter várias prioridades, não faz o mais difícil, dizer não, isto e mais isto não quero. Quer o TGV, um novo aeroporto de Lisboa, uma terceira travessia sobre o Tejo, quer mais hospitais e ser pioneiro nas energias renováveis. Não é querer muito, não fossem tão escassos os recursos. São projectos seguramente importantes, mas não há tempo para tantas prioridades. O desígnio nacional é exportar, hoje e amanhã. É nisso que se devem concentrar governo, conselhos para a internacionalização da economia, empresários, gestores e trabalhadores. Um contrato nacional.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.