Falta pensar no futuro, planear, definir uma estratégia de longo prazo, fazer mais do que cortar a eito na despesa para suportar o presente. A meta de um défice inferior a 3% até 2013 é importante, mas não é despicienda a forma de lá chegar. Muito pior é a sensação de estar de mãos e pés atados, de que não há muito mais a fazer. Mas quando não se entende o presente é difícil pensar, quanto mais acreditar no futuro.
Não entender o alcance das medidas de austeridade tomadas pelo governo, ou melhor, temer que não tenham qualquer alcance, a não ser disparar para cortar nos custos, afasta qualquer um de quem decide. É esse o maior problema deste governo, que pede sacrifícios enormes sem apontar uma direcção. Os impostos aumentaram ontem, mas não existe qualquer garantia de que em 2013, ou, sejamos tolerantes, mesmo em 2025, Portugal estará melhor, de que todos teremos ganho qualquer coisa. Pode sempre argumentar-se ao contrário, dizer-se que se não se pagasse mais agora tudo ficaria pior, tais são os riscos que pairam sobre a economia nacional. Mas isso não vale, isso não é governar.
Ontem Isabel Alçada anunciou o encerramento de quase mil escolas espalhadas pelo país - 500 já em Setembro -, uma decisão que afectará cerca de 10 mil alunos do primeiro ciclo. A ministra garantiu que o fecho destas escolas com menos de 21 alunos é feito a pensar no bem das crianças e que mais não fez do que dar seguimento ao trabalho da sua antecessora, Maria de Lurdes Rodrigues. Oxalá! É bom que o governo saiba muito bem o que está a fazer. Pode afectar só 3,5% dos alunos do primeiro ciclo, para citar Isabel Alçada, mas são 10 mil crianças que vão alterar a sua rotina. O que está em causa não é apenas mudar de sala de aula. É mesmo bom que todo este processo de reorganização da rede escolar esteja bem pensado, que não exista por aqui qualquer tentação de aproveitar para poupar mais uns milhares de euros. O assunto é sério, talvez o mais sério; trata- -se da educação dos nossos filhos. Lá está, do futuro. E o que o passado nos mostra é desolador. Segundo dados da OCDE de 2010, citados pelo "Público", nos últimos 50 anos os portugueses mais que duplicaram o tempo médio de permanência na escola, mas mantiveram-se entre os piores, apenas à frente da Turquia. O veredicto é confirmado pelo Banco de Portugal no recente relatório da Primavera. O país nunca conseguiu, de facto, acompanhar os seus parceiros europeus no aumento do nível de qualificações da população activa. Ainda que o governo gaste cada vez mais na educação. Só isto basta para provocar a dúvida sobre o presente. A responsabilidade pela boa educação dos nossos filhos não é, obviamente, toda do governo, mas se este não faz a parte que lhe compete com a receita dos impostos, cada vez mais altos, que cobra aos pais. Se não sabe se faz bem, é melhor ficar quieto. Com este passado e com este presente, é cada vez mais difícil acreditar num futuro deste governo. Uma certeza: não haverá nunca melhores mãos que as nossas.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.