Terça-feira, 28 de Abril de 2009
A gripe suína impôs o caos na Cidade do México, espalhou-se pelos Estados Unidos e pelo Canadá, entrou pela Europa e já chegou às portas de Portugal. Na segunda-feira, as análises feitas a um homem de 23 anos que vive em Albacete confirmaram o primeiro caso de gripe suína em Espanha e também na Europa. São já sete os países com casos confirmados desta doença. Enquanto o Mundo treme perante as notícias do aumento do número de vítimas mortais da gripe, em Portugal, a ministra da Saúde garante que não existem, no nosso país, motivos para alarme. Hoje, Ana Jorge disse ainda que, à semelhança do que já foi feito noutros países União Europeia, foram activados os dispositivos previstos para situações deste tipo, tendo em conta as recomendações da Organização Mundial de Saúde e de Bruxelas. E sublinha também que Portugal dispõe dos meios terapêuticos que, em caso de necessidade, serão fornecidos gratuitamente aos cidadãos.
Ainda bem que o Governo português está seguro das medidas tomadas para evitar a entrada da epidemia em Portugal. Afinal, Albacete fica apenas a pouco mais de 600 quilómetros das fronteira portuguesa. Mas a tranquilidade já não deve ser a tanta quanto aos meios existentes para enfrentar uma indesejável e até improvável desgraça. Basta pensar no que acontece às urgências dos hospitais portugueses quando ataca a gripe sazonal para questionar a aparente infalibilidade dos planos de ataque nacionais. As urgências entopem todos os anos, na mesma altura do ano, aparentemente sem solução.
É sensato evitar alarmismos, até porque Portugal tem tido a sorte de quase sempre ter passado ao lado destas pragas globais. Mas também é verdade que com a sorte nunca se brinca. Ao Governo, compete, em muitas situações mas sobretudo nesta, porque é de saúde pública que se fala, ser perfeito e infalível. Prever tudo, até o lado psicológico do fenómeno. Um espirro hoje tem outro significado. A Linha Saúde 24 – o sucessor do saudoso e eficiente serviço Doi Doi Trim Trim – já regista um acréscimo de telefonemas por causa da gripe mexicana.
Quinta-feira, 23 de Abril de 2009
Quarta-feira, 22 de Abril de 2009
O Governo é bom, o primeiro-ministro é óptimo e Portugal não merecia tanto. Isto foi, em síntese, o que José Sócrates foi dizer à RTP1 na entrevista de terça-feira. Nem foi preciso dormir sobre o assunto para chegar a esta conclusão. Foi um vazio de discurso estudado e repetido.
Foi assim: a sua seriedade é tal que nunca lhe passou pela cabeça enfiar a carapuça das críticas feitas por Cavaco Silva contra os que governam pelos números e para as estatísticas; o seu sentido de Estado é absoluto e total porque nunca imaginou enviar indirectas, mesmo que a título de resposta, ao Presidente da República – afinal, não é Cavaco o rosto da política do recado e do bota-abaixismo e a cooperação institucional entre Belém e São Bento é um bem inestimável; a sua eficiência é inquestionável pois detectou os sinais da crise no momento certo, nem mais cedo nem mais tarde; não existem dúvidas sobre a sua eficácia porque o pacote anti-crise lançado pelo Governo é a solução para estimular a economia nacional e evitar a destruição de emprego; e o Freeport, esse caso, é o instrumento do Mal – ficou, mais uma vez, a garantia pessoal que não houve nenhuma irregularidade ou ilegalidade no processo de licenciamento do Freeport.
Foi isto. Sócrates foi, é e será sempre a vítima de alguém e de qualquer coisa, seja do Freeport, dos jornalistas, da Oposição, dos analistas ou das palavras que podem vir a ser ditas num discurso para comemorar os 35 anos do 25 de Abril. Imagine-se o que pode acontecer se no espaço de uma semana o Presidente da República não tiver mudado de ideias e no próximo sábado insistir no tom crítico e voltar a apontar erros à política do Governo de José Sócrates. Como será que reage alguém que nunca tem dúvidas e raramente se engana? Cavaco Silva sabe a resposta.
Quinta-feira, 16 de Abril de 2009
Vítor Constâncio quebrou a tradição e aproveitou o boletim da Primavera para rever em forte baixa as previsões para a economia portuguesa. O governador do Banco de Portugal mostrou que as coisas estão mal, mesmo muito mal, e que tão cedo não vão melhorar. O país atravessa a pior recessão desde 1975, arrastado pela forte contracção do investimento privado e das exportações. Em síntese, em 2009, o PIB deverá cair 3,5%, em vez de 0,8%, o valor previsto no Inverno. E num ápice, são seis mil milhões de euros que se evaporam, um montante que chega para suportar o investimento total no projecto do comboio de alta velocidade.
Pior, a retoma não chegará tão cedo. Constâncio já tinha avisado. Só no final de 2010 se começarão a sentir os primeiros sinais de recuperação e apenas em 2011 se poderá falar do princípio do fim da crise. Primeiro os Estados Unidos, depois a União a Europeia e só então Portugal. É este o desolador programa das festas.
Lido e relido o boletim do Banco de Portugal, não há palavra, por mais discreta, que sugira um pessimismo exagerado. Pelo contrário, o resultado final ainda pode ser pior. Os riscos são consideráveis e a incerteza não é grande, é enorme.
Mas não ficamos por aqui. Para além de mostrar a realidade, negra, Constâncio apresenta um futuro agreste. E avisa o Governo que deve começar já a pensar como é que, depois do lançamento do pacote anti-crise, vai voltar a meter em ordem as contas públicas. É que não há tempo para descansar. Tudo tem um preço, mesmo que só se pague mais tarde.
O aviso do Banco de Portugal serve para todos. Neste momento, com a inflação negativa, sobretudo à custa da forte descida do preço dos combustíveis, e com os juros baixos, sobra algum dinheiro na carteira. Vontade de gastar não faltará, mas isso também vai acabar. Com a retoma, os preços voltarão a subir, como já antecipam alguns economistas, e atrás virá a subida dos juros. O dinheiro vai e volta. A verdade é que não ficámos mais ricos.
Sexta-feira, 3 de Abril de 2009
É óbvio que o caso Freeport não vai morrer tão cedo. E ainda bem. Este não é só mais um caso, é aquele em que o primeiro-ministro português é citado num processo de suspeitas de corrupção. Chamem-lhe campanha negra ou o que quiserem, mas Sócrates deveria ser o primeiro a querer ver tudo em pratos limpos. E quanto mais cedo melhor. Da sombra, essa sim muito negra, já não se livra. Da desconfiança, muito menos. O seu bom-nome, que diz tanto prezar, não voltará a ser o que era se não houver uma conclusão. O arquivamento só é bom para quem deve. E o que o primeiro-ministro diz é que não teme.
Mas para que tudo acabe bem, independentemente da conclusão, é bom que a Justiça funcione e que consiga transmitir a confiança de que não existirão atropelos, pressões e outras coisas que tal e que ninguém, mas mesmo ninguém, vai falhar no cumprimento das suas obrigações. E é precisamente isso que não está a acontecer. Para o comum dos mortais, o que parece é que no meio de tamanha confusão, a promiscuidade entre o poder político e o poder judicial instalou-se para mastigar as investigações. E às vezes, à conta de tanto parecer, o que parece é.
A divulgação de um vídeo transmitido pela TVI, onde alegadamente Charles Smith acusa José Sócrates de corrupto, e as declarações do novo presidente do sindicato dos magistrados do Ministério Público, acusando a existência de pressões sobre os responsáveis pela investigação deste caso, são dois bons e recentes sinais de alarme. Mesmo que tudo o que já se passou não tivesse bastado para fazer soar as campainhas de quem, em Portugal, zela pela boa Justiça. Pinto Monteiro quebrou o silêncio sobre o assunto mas mais valia ter ficado calado.
O comunicado da Procuradoria-Geral da República revelou-se uma enxurrada de contradições. Primeiro, os responsáveis pela investigação não são alvo de quaisquer pressões, depois avisa que vai averiguar e castigar os magistrados que possam estar a prejudicar o andamento do processo, e a seguir chama de urgência o presidente do Eurojust porque lhe constou que Lopes da Mota terá contribuído para comprometer a isenção da investigação. Será que pode repetir, senhor procurador-geral da República?!