“A minha mulher ficou desempregada e eu passei a trabalhar menos horas. O nosso rendimento mensal diminuiu substancialmente. A crise financeira e económica afectou-nos muito e os nossos três filhos também já apresentam sinais de stress. Pode falar-me um pouco sobre o stress na infância?”
Uma pergunta de um leitor do New York Times, provavelmente um dos muitos norte-americanos violentamente apanhados pela crise económica, que de um momento para o outro pioraram de vida. O psicólogo ao serviço do jornal respondeu, falou das possíveis alterações de comportamento – agressividade, desinteresse, dores de cabeça e de estômago, entre outras – e deixou alguns conselhos: nunca esconder da criança os problemas financeiros, envolvê-la no debate familiar, mas, muito importante, apresentar sempre um discurso de esperança em relação ao futuro.
E é isto. Pais ilusionistas, pessoas que não andam propriamente felizes, que não têm grandes motivos para acreditar que as coisas vão melhorar – cada vez mais economistas apostam no contrário, como o último Nobel da Economia, Paul Krugman -, mas que ainda assim devem ser capazes de mascarar os olhos de optimismo. E fazer o que se pode. Falhar e voltar a tentar. Até ser capaz de iludir sem ter que mentir. E esperar que a odiosa crise, temperada com amor, possa contribuir para ensinar as crianças a gerir melhor a frustração e para as tornar mais resistentes. Para, ironicamente, prepará-las melhor para o futuro. Apenas uma pequena nota do tal discurso de esperança. Como dizia o pediatra e psicalista Donald Winnicott, os filhos não precisam de uma mãe perfeita, mas sim de uma mother good enough. E estas sabem fingir.